quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Janela

E depois de subir todos os degraus da escada, de dois em dois, batendo os pés na madeira, ecoando seus passos por toda a casa, ela só queria correr. Correr para a janela, se é que isto é saudável no inverno. Naquele inverno tão rigoroso. Mas sem preocupação alguma, alcançou seu objetivo o mais rápido que pôde. Só enxergava a janela fechada, como se fosse o único ponto iluminado. Abriu,abruptamente, o vidro, sem se importar com o barulho que o mesmo fez, reclamando e rangendo vorazmente. Destrancou primeiro um lado, e deu um empurrão, como se sua vida dependesse daquilo. Repetiu o procedimento, com mais rapidez ainda no outro lado, se é que isto é possível.
E foi então que tudo estava claro... Que tudo teve sentido outra vez. Aquela brisa suavizando suas expressões, levando para longe todos os temores, todos os momentos turvos que pairavam até então. Seus cabelos balançavam ao vento, emaranhados. Ela limitava-se a tirá-los do rosto, com suas mãos já não mais trêmulas como outrora. Um sol tímido arriscava a piscar para ela, e ela retribui o gesto com um sorriso e um breve aceno com a cabeça. Debruçou-se no parapeito, em posição arriscada, mas ela sabia, só ela sabia, que estava segura ali. Que naquele lugar, nada poderia alcançá-la, nada poderia tirar aquele momento de paz extrema e profunda, apreciada como o mais divido doce de leite. Escorreu uma lágrima do seu olho esquerdo por todo o seu rosto, e ela deixou que a mesma rolasse até se perder por entre seus cabelos, que ainda insistiam feito loucos, debatendo, divertidos. As nuvens que encobriam o céu iam se dissipando, tornando-o límpido e azul. Um azul tão profundo e verdadeiro que parecia ter saído de uma obra de arte de algum museu bem distante dali. Aquele céu não era real, não devia ser, tamanha sua magnitude.
E agora ela tinha plena certeza de que era a primeira vez que tinha o céu só para si. Que mais ninguém a colocaria em risco. Que um novo recomeço estava sendo reescrito, ali, naquele parapeito daquela janela que mostrava o retrato do infinito, e mais do que nunca, mostrava sonhos de um futuro que ela sempre sonhara.

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