quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Da série: "Eu Era Um Lobisomem Juvenil."
(Parte II)

"♪ Prefiro acreditar
No mundo do meu jeito.
E você estava esperando voar.
Mas como chegar
Até as nuvens
Com os pés no chão?  ♫"
Eu Era um Lobisomem Juvenil.
Legião Urbana.


Desejava com toda a força que emanava de mim, com toda a confiança que me foi depositada, com todo fervor que estava pra vir à tona, a qualquer momento, ser capaz de chegar até as nuvens. Não me importaria com o método que seria utilizado para tal feito e muito menos se tantos julgam uma tarefa impossível. Cheguei até as nuvens, de olhos bem abertos, não perdi nenhum segundo de êxtase, tomando conta de mim.
Tive o sonho de ali chegar, desprovida de medos e lamúrias, de qualquer preocupação que poderia turvar-me os olhos e simplesmente sorri. Olhei para cima e vi aquela imensidão azul tão próxima, olhei para baixo e nada consegui distinguir daquele mesclado de azul e branco, que em alguns momentos até poderia ser confundido com algodão doce.
Os pássaros voavam abaixo de mim, despreocupados, sem nem notarem a minha presença, de forma que aquele cenário me pertencia, como se nunca houvera sido diferente. E num piscar de olhos, bati minhas asas e mergulhei junto a eles, num pega-pega sem pressa ou competição. Até todos voarem juntos, rumando para baixo, para alguma árvore, não sei. Para onde vão os pássaros, ao anoitecer?
Estou só.
Avisto, em meio aquele cenário que mais parece a pintura de um quadro, algumas nuvens se agitando de forma estranha. Uma brisa suave, um perfume sem igual -se a vida tivesse cheiro, com certeza seria este. E uma sensação única, indescritível. Fico tentada a dar meia volta, mas algo chama minha atenção. Sinto-me hipnotizada. Depois de me concentrar, e ainda assim com muito esforço, vejo um par de olhos a me encarar. Tão verdes, tão misteriosos. Eles piscam, os meus vacilam. Mas vou ao seu encontro. O dono dos olhos se vira, exibindo um par de longas asas negras e se vai, batendo-as num ritmo desenfreado que parece música. Sigo-o sem pestanejar, porque estar em contato, tocá-lo tornara-se o meu objetivo. A razão pela qual eu estava ali, no meio daquelas nuvens. A razão pela qual eu existia e nada poderia ser diferente.
Se em alguma fase de minha vida eu não acreditei em destino, neste momento senti-me completamente enganada. O meu destino era encontrá-lo, minha felicidade estava nele. Ele me complementaria e esta é a única certeza que tive na vida. Um mundo paralelo fez-se, então. No qual os únicos habitantes éramos nós, no qual não havia lamúria, não havia tristeza, não havia maldade. Apenas a pureza daquele olhar, daquele contato que sufocava-me e se eu estivesse com os pés no chão, e não nas nuvens, de certo que minhas pernas estariam bambas, colocando-me à mercê de uma queda iminente.
A euforia era tanta, que o simples fato de estar ali em cima, em contato com ele, em contato com algo tão grandioso que jamais supus que poderia acontecer, além de um sonho, trazia-me ora torpor, ora adrenalina.e perdi os sentidos.
Caio.
A altura é imensa.
Algo está errado, o que está acontecendo?
A multidão curiosa começa a aumentar, ao meu redor.
Não consigo bater as asas, não consigo me mexer.
A respiração está se tornando difícil, assim como manter os olhos abertos.
E dentre tantos rostos disformes ali presentes, é apenas um que reconheço.
"-Sabia que você não me abandonaria."
E fecho meus olhos.
Para sempre.
Com a certeza de que morrer de amor, não dói.

***
Gostei, MUITO, do resultado deste.

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