quarta-feira, 28 de abril de 2010

A sede. (Revoltas e Reflexões.)

Agora pare o que estiver fazendo. Preste atenção. Iria mandar fechar os olhos, mas a leitura não seria possível. Concentre-se.
Vamos imaginar uma cena, juntos?
Você se veste com uma roupa apropriada para ginástica. Põe umas músicas no MP3. Óculos de sol, chave. Chega no parque. Já foram quinze minutos de caminhada. Faz um alongamento e começa a correr. No seu ritmo. Correr faz bem. Mas você não corre há anos, ou nunca correu. No primeiro minuto já sente um incômodo, uma falta de ar. E você se propôs a correr por trinta! E é tão teimoso, como um ariano, que correu exatos trinta minutos até o fim! Sente seu coração bater na garganta, o suor banhou-lhe as roupas. A vista fica turva e por mais que inspire, falta-lhe o ar. Ah, e o que falta nessa história? O squeeze que você deixou com água na geladeira, na noite anterior. Você precisa de água! Olha ao redor e não há nenhuma barraquinha, padaria ou similares. Não tem nenhuma torneira. Não há ninguém. A sede quer ser saciada. Quer desaparecer por completo, e enquanto você não mandá-la embora, dando-lhe o que ela almeja, ela não o deixará em paz. Começa a voltar... Os quinze minutos se estenderão para cinqüenta, com toda a certeza. Você não pensa em mais nada. Só em uma piscina! Uma caixa d´água. Um riacho. Uma cachoeira de águas cristalinas. Faria de tudo para acabar com esta que te atormenta. Olha para o chão e há água suja, com sabão, escorrendo para o bueiro. Seus instintos são de abaixar, ali mesmo, mas você não o fará. Só ficará numa espécie de transe olhando aquela água escorrendo - Que desperdício!.
Você chega em casa. 

Situação #01
Pergunto eu:
O que você faria se, por MUITO azar, tivesse perdido a sua chave?

Situação #02
Você adentra seu portão e porta em seguida, não limpa os pés, corre até a geladeira e deleita-se no liquido milagroso que seria capaz de trocar pelo tal MP3, por seu óculos, por sua casa... rs.


***

Perdemos nosso foco e nossa razão quando nos deparamos com situações como esta, da sede. por exemplo. E tais necessidades nos perseguem, nos assombram. Tudo seria mais simples se fossem apenas fisiológicas, "fáceis" de serem saciadas. O problema é a sede que temos em ser alguém perfeito. De termos o melhor. De sobressairmos sempre. 
É uma competição interna, onde não há vencedores. Sempre se deseja mais, se almeja o mais distante. 
Ah, dificuldades desnecessárias, na maioria das vezes! Onde se gasta tempo, recursos e saúde mental. Onde pecados mundanos perseguem os pensamentos. Onde a ira e as lágrimas se fundem, fazendo o chão desaparecer sob os pés. A vista fica turva, e as palavras saem, sendo ou não verdadeiras, com um conjunto de outras que nunca deveriam ser ditas a ninguém. Elas têm vontade própria!
Estamos sedentos por aparência ao invés de algo superior a tudo isso. Estamos irracionais. E isso é, de fato, uma regressão. Rumando aos tempos de outrora. A sociedade é, e sempre foi, um mal necessário. O problema é quando apenas é o mal. PONTO.
Assusta. Fere. Engana. 

E revolta. 


(...)



***

Nota:
Este fugiu do que procuro escrever por aqui, na maioria das vezes.
Peço que me desculpem e que me compreendam. 

E que raciocinem à minha exposição, solucionando esta podridão interna. Fica a dica. 

Um comentário:

Ellen Couto disse...

Bela reflexão, belo exemplo!

Adorei.

=)